Alarme

Esse som
Uma sirene interior apitando sem parar.
Parece seguir o ritmo da luz
vermelha, a piscar.

De novo não.
Espero que não.
Mas já que o alarme incomoda
não dá pra ignorar o que se sabe
sem saber.

Quanto tempo faz quenão ando por essas paragens?
Que minha alma pisa em novos tufos de grama úmida e a luz aumentou, como se um astro rei anunciasse sua breve aparição?

Mantive-me longe desse espaço que guardava aquela energia. Mas não tenho mais a mesma.
Estou em movimento mais constante e percebo o desfacelar de peças que prendiam em lugares que não me cabiam.
Eu me agarrava com unhas e dentes para caber nos moldes que o mundo me entregou quando eu nasci. Sofria por não compreender a falta de encaixe. Agora parte de mim, aquela que compreende que há algo muito errado em tudo isso, se compraz em perceber-se livre das amarras que não faziam sentido.
Outra parte, essa, talvez, ainda com resquícios dos anos tentando se adequar, imagina que talvez fosse muito mais fácil fazer parte desse mundo, vivendo a ilusão de que a felicidade cabe em uma casa de dois quartos com filhos, cachorro e carro na garagem.
Não.
A terceira parte grita!
Talvez ninguém realmente acredite nisso. Talvez ninguém seja "feliz".
Mas há uma certa felicidade.
Sei que ela existe. E compreendo que não tem a obrigatoriedade nem a intenção de ser constante.
A felicidade não é um lugar onde você chega e se prosta depois de ter percorrido o mundo inteiro em seu encalço.
Ela é como brisa de verão, fugaz, deliciosa que, quando passa, o calor toma conta, junto com o suor, os mosquitos e a agonia.
Adianta correr atrás do vento?
O melhor que você pode fazer é procurar lugares mais ventilados: de pessoas, de cheiros, de atitudes, de pensamentos, de músicas... e sentir a brisa passar por lá quando em vez, pra te acariciar a pele.

Dos ciclos difíceis de quebrar

Como lidar?

tento te ler. Tento me aproximar. Mas por trás desse sorriso os olhos distantes e desinteressados sinalizam que algo mudou.
Por que tão rápido?
Procuro em seus gestos sinais que me indiquem o que mudou. Que me indiquem o que fazer. Mas não há.
Quando você se fecha assim, me empurra para o outro lado e começa a acreditar em si mesmo. Na mentira que você se conta pra te ajudar a fugir de mim. De nós.
Não posso acenar o dia inteiro. O braço cansa de não ser visto ao longe por olhos que olham mas não veem.
Já abri todas as portas de que tive conhecimento, mas você não as usa.
Me conta!
Se abre.
Vamos juntos?

Por que me incomoda tanto se ambos são solteiros.
Se nada tenho a ver com os encontros deles
ou dos desencontros anteriores que tivemos.

Tenho meu par, apesar de hoje estar me sentindo tão ímpar
impiedosa solidão martelando no ritmo do respirar.

Gelou. doeu. senti. calei.
Respira fundo.
não te cabe tentar entender.
Nunca te coube essa relação.
não era pra ser.

Não foi.
Segue em frente.

Por que mesmo sabendo a verdade eu fico aqui implorando ao universo para que esta não seja.
Para acreditar nas que você inventa pra me aprisionar em meu sentimento.
Sim, essa será a última partida, porque eu já não tenho mais pedaços para deixar pra trás...

Enquanto eu procuro um meio de fazer as coisas funcionarem
você procura outras pessoas por quem se interessar.
me toca com mãos frias
finge um sorriso impaciente e agrado pela companhia que já não quer.
Cada minuto do dia só faz eu me perguntar ainda mais "o que eu estou fazendo?"
envelhecendo rapidamente, mente, corpo, coração.
Sofrendo a distância que você deliberadamente coloca entre nós
como uma desculpa para ficar só
para ficar com outros...
para eu ficar aqui, aos seus pés sendo a estúpida que sempre fui.

O pior é que eu realmente sei que você se arrependerá quando eu me for.
Mas talvez essa seja só mais uma ilusão.

Essa intuição
(será)
benção ou maldição(?)

zunido de besouro
ferindo meus ouvidos
e minha paz
calmaria de águas turvas
ebulição submersa...


'If I give my heart to you (...)
If I trust in you
oh, please
Don't hurt my pride (...)
- Cause I coudn't stand the pain...

Dos cinco anos
nenhum se passou ainda
mas me parece
que você já começou a andar
na direção oposta
distanciando-se de mim...
Te peço que fale, me abrace, me aqueça
se esqueça do que passou
e me ajude a esquecer também.
Mas cada passo na sua direção
parece um na direção oposta...
Pare de me fechar aqui fora de você
assim nem sequer posso lutar...

Sufoco

É claro que eu sei que eu deveria superar
seguir em frente
não deixar mais o passado me machucar
e muito menos
deixar que ele me aparte de você
A parte que me cabe, já que decidi ficar
é esquecer tudo que já foi.
cicatrizes talvez nunca desapareçam,
mas elas não precisam doer.
Talvez não esteja suficientemente curado
talvez ainda precise
de band aid, de distância, de um milagre
Talvez só o amor não seja o bastante
pra me tornar forte
pra me dar o suporte necessário
pra superar tudo isso e ficar bem com você
Pior que eu tento forte..
Tento de verdade
e quero você perto, quero conseguir
não estragar os momentos que temos
tão poucos, tantas vezes,
com coisas que foram grandes feridas
mas deveriam ser motivos pequenos pra nós.
Mas as lembranças estão coladas conosco o tempo inteiro
pelos laços que você não tem como desfazer
seu com ela, seu com os dela, seu com o seu,
dela com os seus...
isso cria também um laço em mim
um que eu não gostaria de ter que saber como lidar
como me alinhar, como reagir, como suplantar
minhas feridas e seguir como se nada houvesse.
como se nenhum houvesse,
como se tantos não houvessem...
É difícil pra mim.
Ainda questiono se poderemos ter um futuro juntos...
será que o amor será suficiente?
Só peço que
se você também quer tentar fazer isso sumir
perceba
o momento em que meus olhos se baixam
e que eu começo a me distanciar
e me puxe forte, me agarre, me abrace
me diga que não há lugar pra ir,
que eu pertenço ao seu abraço e só lá,
somente lá serei feliz.

boba
Estúpida minhoca rastejante
sem cérebro
sem rumo
sem noção.

Nem todo dia
eu tenho saco
pra suas fugas...

Você
Embaralha todas as minhas cartas
junta todas as minhas peças
leva todas as minhas fichas
e xeque-mate!

Dúvida...

Vale à pena passar por cima de minhas desconstruções
e  ressuscitar sonhos outrora destruídos
pela mesma razão de minha dúvida agora surgir?

Part indo- se

Um esforço desgraçado
tal qual um trabalho de Hércules
Para botar pra fora
algumas poucas verdades de mim.
E obter como resposta
o seco silêncio e um ressonar...

No meio do mar uma estrada asfaltada.
Um braço erguido no meio do nada
abraça as doces-salgadas águas
que ali se encontram
Vezes turvas, vezes claras
Calmas sob a luz de longínquas estrelas
Cometas caídos
Nuvens claras de brilho lunar.
No meio da madrugada,
o céu à espera da alvorada,
dois perdidos na vida e na noite
Numa motocicleta,
vento batendo como açoite
Abraçaram a ideia de aproximar
suas inquietudes
da imensidão das águas
e na palma da mão alaranjada
daquele braça-mar
lançaram-se em beijos acalourados,
deixando sobre o tempo-espaço,
brumas do esquecimento,
e mantendo de lado o pensamento
Enquanto viviam intensamente
o momento da fusão
de seus dois seres em um só.
Toda a imensidão do desejo
explodindo e competindo com o firmamento
que tal como eles, nesse momento,
era infinito e era pó.

Eu acho bem possível
que eu esteja ficando louca...

Eu amo você tanto
que as vezes não cabe ar no meu pulmão,
todo meu peito ocupado de você,
e quando tento respirar
BOOOM!


Bom, mau, não sei.
Mas é bem maior do que pode um ser
raquitico, porém humano,
suportar.
CABOOM!

Pesadelo

Por que desta vez você não estava ao meu lado
meu corpo cansado demorou a adormecer
Por que desta vez você não estava ao meu lado
meu sonho dourado em pesadelo se fez
Por que desta vez você não estava ao meu lado
um suor gelado molhou a minha tez
Por que desta vez você não estava ao meu lado
meus olhos pesados eu não mais fechei
Por que desta vez você não estava ao meu lado
meu braço abraçou a almofada, mais uma vez
Por que desta vez você não estava ao meu lado
um suspiro, ar pesado, corpo em rigidez.

Deixe que caiam
os véus
as máscaras
as lágrimas
a chuva

Deixe que se esvaiam
as dores
o sangue
os sonhos
o amor

Deixe que acabe
o que era vidro
e se quebrou

Não vou conter pra mim
não conto pra ninguém
com quem contar?

Me vejo
percebo que
talvez eu quis demais
que tudo que é igual
não fosse nunca mais...

Se houve uma noite em que, nos domínios de Morfeu, um pedaço que reunia nossas energias foi criado
ontem, na mesma pátria colorida, foi retirado o ser que dormia nas entranhas do fictício ser eu.
Estranhas sensações me acometeram em ambas ocasiões.
Mundo interessante esse, capaz de muitas energias, sentimentos e vivências que não chegam até nós, cá na tenra vida terrena.

Adeus ano velho.

Ao longe as luzes que pulavam no céu e espalhavam suas cores na misteriosa escuridão do horizonte
De perto o brilho cintilante do olhar que expressava anseios, dúvidas e uma leve tristeza pelo atraso do beijo que selaria a passagem de mais uma fase, mais uma noite, mais um ano.
Aquele olhar me disse mais do que suas palavras, e também mais profundamente, que lutaremos juntos.
Parceiros, amigos, amantes, amores, avessos, iguais, semelhantes.
Juntos construiremos aquilo que queremos viver e acreditar.
Uma horta, um pomar, 'ciclovidas' envolvidas, um lar...
Aos poucos, meu bem, a gente chega onde quer chegar.

Feliz ano novo!

É como estar boiando nas águas calmas de um lago
e ir
aos poucos
virando lago
águas calmas e transparentes
sem corrente

se eu desaparecer...

Quando você insiste em lançar milhas
nesse vão pequeno
do espaço tempo que lhe dou
levo um soco no estômago
dos suspiros escondidos nos recônditos espaços
de quem eu sou.
Quando me desfaço e dispenso
e remarco e reinvento
meu tempo
pra você
percebo saltar no espaço
do buraco que foi criado
mesmo sem você perceber...

Em seu mundo
Nem sempre me encaixo
às vezes me perco
às vezes me acho.

NóS2

Meus lábios
inchados dos dentes seus
lentes e reflexos
feixes e botões
pés e mãos e pernas e ventres
que se sobrepõem
perpassam, transpassam
repassam, relam
e se acabam

sem paciência
sem força
na dormência sorridente
do ofegar
o balanço do embalo
o descanço acalentado
pelo teu olhar.

desabafo

As mesmas dúvidas que te acometem na distância, lançam-se sobre mim...

Mas você nem consegue perceber como pode ser difícil pra mim, lidar com situações assim, novas, complicadas, que não tem como "resolver"...
Acontece que tem 'lugares' na sua vida, espaços, que não me cabem... Então sou excluída, distanciada e, conjuntamente, você começa a me distanciar...
Quando isso acontece eu só consigo pensar que tudo aconteceu rápido demais e que o melhor seria a gente se afastar, porque há anos que você vem pulando de um relacionamento direto no outro, sem um tempo para organizar sua própria cabeça, sua vida, suas emoções... Talvez por isso sempre fique essa bagunça toda, não é?
Sei que fazendo isso corro o risco de você não voltar... Mas, eu não sei o que fazer. Não sei como lidar com essas coisas e penso que se estivermos longe, podemos pensar melhor em nossas atitudes, nossas relações...
Não somos mais adolescentes.
Nossa relação agora, não é mais como a de antes, e diante de tudo o que já vivemos, nem pode ser... Às vezes me parece que você trata arbitrariamente os meus sentimentos, o compromisso que me disponho a assumir junto contigo. mas compromisso não é só uma palavra, entende? Não basta a agente dizer que tá junto, que tá namorando, etc. É preciso que haja um real compromisso entre nós, que estejamos juntos de fato, diante de todos os acontecimentos.. Mas sempre que acontece algo mais "importante", sinto que sou empurrada pra fora...
Talvez, se não estivermos juntos, se eu não criar expectativas, eu consiga pensar melhor se essa relação tem futuro ou não... Pq estamos caindo mais uma vez no mesmo loop (pelo menos eu sinto assim), e eu não quero passar por isso mais uma vez =/

Eu sei que parece muito bobo,
Mas às vezes esse abismo das coisas que não sei
toma dimensões maiores
se junta com a cachoeira das coisas que não dizes
e caio no rio da insegurança...
Tento nada e pular fora dele,
mas nem sempre o céu está límpido e azul
para meus vôos de esperança
de que dessa vez o cenário seja mesmo outro...

(:

Agora tantos sorrisos,
que outrora se escondiam,
rasgam minhas manhãs em lençóis emaranhados
com perfume entrelaçado.
Cheiro teu cheiro, me vestindo, me cobrindo.
De repente respirar é melhor.

Em ti

Conhece-me bem
No fundo dos meus olhos
Esse canto de sorriso
Que com canto se assemelha
Sendo voz incolor
Das dores que queimaram
E renasceram amor.
Sente-me forte em encontro
Nos braços de pelos rijos
Que de pele aquecida
Se rebelam e se eriçam
E percebe o perfume nascente
Que corre e mistura com o cheiro teu
Mãos firmes, pensamentos vãos
lábios sãos com carinhos amansados
de manter no abraço cansado
o elo que se criou,
assuntos verbalizados,
sorrisos entrecortados
e o olhar que grita amor.